4.16.2013

Da série "Serial Killer da Conjugação"

Essa é daquela hora do começo da tarde, que você tá voltando do almoço, correndo pra deixar a filha e chegar no horário da reunião no trabalho. E o rapai do panfleto (que, convenhamos,  não tem nada a ver com o pato.. ou com a vaca) vem te entregar o folheto no sinal...

- Mãe, existe leite ralado????



E agora, que quié que eu respondo pra criança?...

4.09.2013

Aula de Geografia - parte I

Além de padecer no paraíso, mãe tem que estudar junto na época de provas. Isso é tão fato quanto a tabuada do 5 ser a mais fácil.

E o tema dessa semana é a danada da Geografia. Aquela matéria que ninguém dá bola porque "é a mais fácil do vestibular". Ou porque "o que me interessa saber onde fica o Havaí?" (certo, Renata Raposo? rs).

Bárbara ainda não vai entrar na faculdade e nem vai viajar pro arquipélago americano no Pacífico. Mas, tem que aprender a matéria querendo ou não, que ela já considera sua inimiga mortal desde três dias atrás. Pra ver a força da ciência que estuda o planeta Terra (foi tia Wiki que disse isso), ela já superou a Matemática em ódio e hostilidade gratuita no ranking de Bibi.

O problema é que eu gosto. De verdade. E gosto ainda mais do que ela tem que estudar pra prova dessa semana: Estados e capitais. Então, como fazer a garotinha arredia aceitar e, pior dos piores, decorar essa lista?

Restou-me apelar para aquilo que sempre dizem que funciona na teoria. Testar na prática as técnicas de mentalização/memorização mais esdrúxulas do mundo...

(Atenção pais e educadores: o material a seguir contém cenas fortes. Não me denunciem ao Conselho Tutelar por conta das analogias toscas.. é tudo pelo bem do futuro da minha filha, ok?)


1ª Rodada - Estados do Nordeste

Acre:
- Mãe, esse é fácil, decorei porque era o primeiro da lista... Rio Branco
- Ok

Amazonas:
- Manaus
- Ponto pras meninas

Roraima:
- (pausa dramática)... hum, não lembro esse
- Vamos lá... olha aqui no mapa, está no topo de tudo, né? Enxergam tudo ali pra baixo, no resto do Brasil... então, eles têm uma BOA VISTA do resto do País...

Rondônia:
- Também não lembro...
- Seguinte, tem uma porção de rios ali nessa região, certo? Então, eles andam muito de barco. E onde o barco para?...
- No porto?
- Isso... só que lá, o PORTO é VELHO

Amapá:
- Macapá!
- Bingo! (mas, essa era mel na chupeta, né?)

Tocantins:
- Palmas (clap clap clap)
- Olha, a técnica funcionando...rs

Pará:
- ... não lembro mesmo...
- Bom, vamos ver como guardar o Pará... ah, já sei! Vem comigo: PARA-BELÉMs pra você, nesta data querida...
- Hahahahaha... mãe, quer ridículo!
- Aposto que você não vai esquecer nunca mais, tá?

Tu tá de sacanagi com essa criança, num tá?




1.02.2013

Para 2013, muitos milagres

Nada mais chavão do que falar que promessa de final de ano é chavão. As avaliações, as listas, os desejos, as coisas que você quer apagar, aquelas que não quer esquecer... as imensas chaves que se arrastam e tilintam baixinho nos últimos dias do ano até explodirem num grito libertário do som dos fogos coloridos no céu.

Também pensei numa porção de coisas, mas, preferi ficar com resoluções macro. Porque, se tem uma coisa que aprendi em 2012, é que nem sempre você pode/consegue/vai controlar tudo o que acontece ao seu redor. Para o bem ou para qualquer outra força que exista.

Então, enquanto pensava nas minhas intenções de ano novo (que vão ficar bem guardadinhas aqui na cachola), lembrei de uma canção de Itamar Assumpção. E é um dos melhores resumos do que desejo em 2013 - pra mim, pra você, pra quem não conheço, pra quem ainda vai nascer, pros meus amores, pros meus amigos, pra minha família. Pra todo mundo que acreditar que mil lágrimas podem virar um milagre...

Milágrimas (Alice Ruiz e Itamar Assumpção) 

em caso de dor ponha gelo 
mude o corte de cabelo 
mude como modelo 
vá ao cinema dê um sorriso 
ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo 

se amargo foi já ter sido 
troque já esse vestido 
troque o padrão do tecido 
saia do sério deixe os critérios 
siga todos os sentidos 
faça fazer sentido 
a cada mil lágrimas sai um milagre 

caso de tristeza vire a mesa 
coma só a sobremesa coma somente a cereja 
jogue para cima faça cena 
cante as rimas de um poema 
sofra penas viva apenas 
sendo só fissura ou loucura 
quem sabe casando cura ninguém sabe o que procura 
faça uma novena reze um terço 
caia fora do contexto invente seu endereço 
a cada mil lágrimas sai um milagre 

mas se apesar de banal 
chorar for inevitável sinta o gosto do sal do sal do sal 
sinta o gosto do sal 
gota a gota, uma a uma 
duas três dez cem mil lágrimas 
sinta o milagre 
a cada mil lágrimas sai um milagre 
cante as rimas de um poema 
sofra penas viva apenas 
sendo só fissura ou loucura 
quem sabe casando cura ninguém sabe o que procura 
faça uma novena reze um terço 
caia fora do contexto invente seu endereço 
a cada mil lágrimas sai um milagre 



Milágrimas por Ná Ozzeti: cantando as rimas e o sal dos poemas

11.14.2012

Das compensações da vida





Quando vi essa imagem, há algum tempo, resolvi que tinha que tirar a foto. Além da excentricidade de um esqueleto de carvão em forma de sofá beirando uma estradinha do interior, achei naquele momento que isso caberia em um texto, qualquer dia desses.

O qualquer dia chegou, descomprometido, no meio de uma faxina nas pastas de imagens do computador. Vi a foto, lembrei do dia, da hora, do lugar... e de tudo que aconteceu desde então.

E esse tudo não me poupou em nada. Nem da alegria, nem da tristeza. Nem da saúde, nem da doença. 

Ganhos importantes vieram. Pessoas insubstituíveis partiram. A lei da compensação foi cumprindo mais ou menos seu dever, quem sabe para evitar que essa carcaça não entrasse em combustão espontânea.

Assim como o tristonho sofá da beira da estrada, fui vendo as coisas passarem em duas mãos distintas de direção bem na minha frente. As coisas não tão boas vinham devagar, chegavam perto, ateavam fogo e assopravam pras labaredas irem mais alto. As coisas boas chegavam numa queda d’água rápida, como as pancadas de verão inesperadas, e seguiam seu rumo. Sempre foram essas que refrescaram a alma ardente e deram energia para continuar olhando pro caminho certo - e receber todas as coisas boas e novas e surpreendentes com a serenidade que elas merecem.

Se ele continua lá, não sei. Não voltei mais para ver. Porque aquele momento e tudo que aconteceu desde então me deixou mais do que lembranças. Deixou minha carcaça mais forte, renovou minhas estruturas, refez a minha padronagem. Tenho receio de que ele não tenha tido a mesma sorte.

10.16.2012

1 mês

Ele só queria jogar bola. Ele tinha o sorriso mais conquistador do mundo. Ele passava trotes como ninguém. Ele era o tio preferido de todas as sobrinhas. Ele vivia de gel no cabelo. Ele tinha aquela vaidade, como dizia, boleira. Ele pegava geral. Ele dormia quando viajava de carro comigo. Ele amava a filha mais que tudo na vida. Ele fazia amizade com qualquer pessoa. Ele torcia pro Timão. Ele nunca se metia na briga das irmãs. Ele aprendeu a tocar cavaquinho sem ninguém ensinar. Ele gostava de Adoniram. Ele nunca falava mal de pessoa alguma. Ele mandava mensagem todo dia pra desejar algo de bom. Ele me ajudava a pintar o apartamento. Ele adorava chocolate. Ele tinha o coração mais bondoso que já conheci.  Ele me chamava de Fer... eu o chamava de Du.



Ele era o melhor irmão do mundo e como tal deve estar em algum lugar dizendo pra gente não se preocupar, que tudo vai ficar bem... 

10.12.2012

When I was a child...


Sentava na carteira da frente na escola.
Roubava espiga de milho na plantação.
Queria ganhar um Gênius.
Tinha medo do louquinho da cidade.
Mudava todo ano de casa.
Chorava escondido pra ninguém ver.
Nunca apanhava.
Adorava passear com meu pai.
Ganhei uma sandália de saltinho que não queria tirar do pé de jeito nenhum.
Raspava o fundo da panela de polenta.
Pedia pra minha mãe fazer panqueca todo dia.
Adorava estudar.
Viajava de trem de São Paulo até Dois Córregos.
Tive um balanço na árvore.
Odiava meu nariz.
Adorava meu cabelo.
Caí de bicicleta e me ralei inteira.
Datilografava os orçamentos pro meu pai em duas vias de igual teor.
Gostava de dar susto na minha irmã.
Era especialista em jogar queimada.
Era especialista em me queimar (de verdade).
Fui feliz.

Não sou mais criança faz bom tempo, é sabido de todos. Hoje em dia, sou uma profissional dedicada, adoro pamonha, gosto de dar jogos para minha filha, não tenho medo dos loucos (e sim dos sãos), moro há mais de 10 anos na mesma cidade, guardo meu choro para o que é de merecimento, nunca bati na Bárbara, acho que viajar é a melhor diversão que pode existir, sou louca-descontrolada por sapatos, nunca mais comi uma polenta que fosse igual à da minha mãe, só posso com panqueca de frango, luto para encontrar aquele tempinho para ler, vou para Dois Córregos e fico olhando o que mudou e o que não mudou na cidade, vou a uma praça com balanço na árvore perto de casa, aprendi a aceitar meu nariz e mudar meu cabelo sempre que der vontade, parei de andar de bicicleta (treco perigoso!), digito rapidinho graças ao curso de datilografia, parei de assustar minha irmã para fazer piadas com ela, pratico exercício regularmente e não me queimo mais. Sou feliz.



Ah, e tenho um telefone preto e rosinha também ;)


10.02.2012

...





Quando se perde algo muito importante na vida, reza a sabedoria popular, é que se aprende a dar valor ao que se tinha.

Mas, quando se perde alguém que tinha tanta vida pra viver, tanto amor pra amar, tanta risada pra gargalhar, tanta lágrima pra rolar, tantos horizontes ainda por olhar... a última coisa em que é possível pensar é que exista sabedoria no universo que explique isso.

É neste momento que você percebe que certas coisas que saíram em algum momento da sua vida e às quais  se deveria dar o tal valor depois - namorado, emprego, carteira com dinheiro, dente do juízo - não são perdas, não. Porque perder, pra valer, dói muito mais. 

Hoje, um amigo me perguntou (com alguma constatação) perto do final do dia: você está melhor, não? Balancei a cabeça na afirmativa, engoli um começo de choro e respondi (com alguma resignação): tenho que estar.

Há três exatas semanas, sem nenhum aviso prévio, sem nenhuma cerimônia, sem nenhuma anunciação, uma parte boa da minha vida foi embora. Para nunca mais voltar. Não por minha vontade, não por vontade de ninguém. Alguma vontade invisível aos nossos olhos, arredia à nossa voz, determinada a cumprir sua missão e encerrar uma história que só tinha vinte e cinco anos.

E quando uma parte boa sua se vai, não há descrição física de dor que possa chegar perto do que sua alma sente. Falta força na voz pra lamentar durante a eternidade de saudade que já se sabe que virá.  Sequer há palavra escrita que dê conta de acalmar o emaranhado de pensamentos turvos que dominam sua cabeça. Em algum momento, as lágrimas se cansam e param de cair. Porque nem elas aguentam mais tanta tristeza.

Depois de vinte e um dias, estar bem é uma necessidade básica. Única alternativa ao precipício tentador da melancolia. Rota desenhada para fugir dos questionamentos que, sabemos, nunca terão resposta. Pra deixar de pensar em cada minuto do dia nesse buraco negro, vazio, imenso, oco, sem som nem luz que é sua ausência...


Quero agradecer a todos que estiveram perto da nossa família, em pessoa ou pensamento. Obrigada por cada abraço, mentalização, mensagem, telefonema, intenção, missa, oração... Desejo, do fundo de um coração ainda angustiado, que tudo isso se transforme num grande caminho de luz para meu irmão.



 Du, esse amor aqui de dentro não acaba não, esteja você onde estiver meu mano...