6.10.2012

Sobre bonecos, reclamações e outras depressões




Além de uma porção de coisas que tinha pra fazer, aproveitei os dias de folga para ver alguns filmes.
Nada programado, coisa de chegar na locadora e pá! levar logo. Sem querer, dois deles comportilhavam um mote existencial com uma pitada ardida de excentricidade em comum: tinham bonecos no centro da trama.

Não, não eram filmes infantis e nenhum sapo Caco cantava na lagoa. Os bonecos assumiam papeis importantes no furacão depressivo que devastava a vida dos protagonistas - e, de certa forma, os salvavam. Pelo menos conseguiam tirá-los da tempestade.

Lars and the Real Girl - com a péééssima tradução A Garota Ideal - pode enganar na prateleira. Você vê o Ryan Gosling na sentado num sofá, com cara de bobo e um buquê de flores na mão. Pensamento imediato: comedinha romântica chateenha, passo. A sorte foi ler a sinopse e ver que tem bem mais ali dentro do disquinho.

Ryan, não adianta trazer flores: a @patisanches falou que você tá gorducho, viu?

Ele é Lars, um cara tímido, com problemas familiares até as tampas e que mora na garagem do irmão (que está prestes a ser pai). Evita todo e qualquer contato social, até que... até que resolve ter companhia. Que é essa aqui debaixo.

 
Bianca é uma missionária religiosa que tem pai brasileiro - e feita de borracha

A questão é que ele acredita de fato estar ao lado de alguém real e toda a comunidade entra nessa jogada, pelo bem da saúde mental do pobre Lars. Ponto para atuação de Patricia Clarkson, a médica que acompanha o rapaz nessa viagem - e arrasta toda cidade pra ela. Ponto para a história, que concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro Original.


Não há nada de engraçado na nossa história, Bianca... porque colocaram na prateleira da comédia?


No outro filme, foi a vez de Mel Gibson contar com a ajuda de um amigo especial para curar sua depressão sem fim. Ninguém melhor para assumir essa tarefa do que O Castor, Certo?


Essa é a história de Walter Black, um homem que só queria dormir, o tempo todo dormir...

O terceiro longa dirigido por Jodie Foster fala de um homem padrão norte-americano, bem-sucedido e com família ideal esperando em casa para jantar. E depois de chegar ao topo, restou-lhe a depressão profunda. Depois do insucesso na tentativa de suicídio, um castor de pelúcia que encontrou no lixo passa a assumir o controle da sua vida.

 
 Ficar com o boneco no braço o tempo todo foi fácil... 
difícil foi ter que esperar um ano pra imprensa largar do meu pé e poder lançar o filme


Isso o aproxima do filho mais novo, continua afastando o mais velho, salva o casamento e dá um novo gás para sua vida profissional. E, mais uma vez, todo mundo entra na dança: família, pessoal do trabalho e, num grau máximo, os programas de entrevistas (que, claro, darão espaço para a excentricidade do excêntrico empresário). 


#puxado né Jodie?

Não vou contar mais pra não estragar, caso vocês tenham a curiosidade de ver os filmes (vale a pena fazer a própria leitura das histórias!). 

Mas, o que ficou mesmo aqui na minha matutação: a escolha de um caminho para resolver um problema é sempre de quem o tem. Se é um boneco, se é um remédio, se é um sapato novo... cada um encontra conforto onde sabe que ele está. 

Todo mundo que me conhece sabe que torço nariz para terapia, abraçar árvores ou colocar pedras na testa (com todo respeito a quem se dá bem com curas alternativas & afins). Pra mim, não rola. Mas, conheço dezenas de pessoas que buscam, de uma forma ou de outra, encontrar alguma paz dentro de si mesmo - como Lars e Walter. Só espero verdadeiramente que todas consigam, de alguma maneira, encontrá-la.