Quando vi essa imagem, há algum tempo, resolvi que tinha que
tirar a foto. Além da excentricidade de um esqueleto de carvão em forma de sofá
beirando uma estradinha do interior, achei naquele momento que isso caberia
em um texto, qualquer dia desses.
O qualquer dia chegou, descomprometido, no meio de uma
faxina nas pastas de imagens do computador. Vi a foto, lembrei do dia, da hora,
do lugar... e de tudo que aconteceu desde então.
E esse tudo não me poupou em nada. Nem da alegria, nem da
tristeza. Nem da saúde, nem da doença.
Ganhos importantes vieram. Pessoas
insubstituíveis partiram. A lei da compensação foi cumprindo mais ou menos seu
dever, quem sabe para evitar que essa carcaça não entrasse em combustão
espontânea.
Assim como o tristonho sofá da beira da estrada, fui vendo
as coisas passarem em duas mãos distintas de direção bem na minha frente. As
coisas não tão boas vinham devagar, chegavam perto, ateavam fogo e assopravam
pras labaredas irem mais alto. As coisas boas chegavam numa queda d’água rápida,
como as pancadas de verão inesperadas, e seguiam seu rumo. Sempre foram essas que
refrescaram a alma ardente e deram energia para continuar olhando pro caminho
certo - e receber todas as coisas boas e novas e surpreendentes com a serenidade que elas merecem.
Se ele continua lá, não sei. Não voltei mais para ver.
Porque aquele momento e tudo que aconteceu desde então me deixou mais do que
lembranças. Deixou minha carcaça mais forte, renovou minhas estruturas, refez a
minha padronagem. Tenho receio de que ele não tenha tido a mesma sorte.