4.13.2010

Pega a senha

Sabe até onde pode ir a burocracia de um simples Raio-X? Eu sei...
Fui tirar a tal chapa perto das 16h, depois da fisio, num horário que considerei tranquilo. Considerei mal...

- Boa tarde, preciso tirar uma radiogra...
- Senhora, vai tirar radiografia?
- Era o que eu dizer... (plim! um a zero. A simpatia da moça já saiu com um tento de vantagem)
- Ah, tem que pegar a senha aqui e esperar eu chamar (whaaatttt? só existem três pequenos corpos ocupando aquele espaço enorme: Bárbara, eu e a moça simpática e disposta! como assim, pegar senha? e ir ali sentar no sofá pra ela me chamar assim que botar minha poupança no assento? respira, respira, respira...)
- Tá, tudo bem... (pego a senha, ainda faço uma horinha antes de sentar e também pra tentar ver se ela tinha algo pra fazer, vai que está ocupada, né?... e eu julgando mal... enfim... resolvo sentar e... TCHARAM!)
- Número 26! (porque ela tá gritando? ela sabe que sou eu!!! e porque, meu pai eterno, porque ela esperou o exato instante de eu me sentar no sofá? é uma tática guerrilheira de moças de recepção com o objetivo de testar os ânimos dos pacientes?)
- Oi (mais seco do que o pão que o diabo amassou 3 vezes)
- A senhora vai tirar radiografia?(putaquepariu! não, moça, vim aqui fazer um workshop de alinhamento dos chakras cabalísticos com os planetas do sistema solar! respira, respira, respira...)
- Sim (duas vezes mais seco do que o pão queo diabo amassou 3 vezes)
- Ãhnnn... a senhora está marcada pra que horas (abrindo o imenso livro preto das horas marcadas)
- Moça, eu sempre vim até essa clínica tirar radiografia e nunca me disseram que era necessário marcar hora. Agora é? Desde quando? (se eu chamei de "moça" era bom ela começar a ficar com algum medo... vai por mim)
- Ah, não é obrigatório, mas vai que um chega um dia e está cheio de pacientes, daí, fica difícil encaixar e...
- Olha, não tem ninguém aqui agora, né? Posso fazer, certo? (ou eu vou ter que usar o mesmo poder de convecimento do Michael Douglas no seu dia de fúria?)
- Ah, não, tudo bem, dá pra fazer sim... (porra! porque ela ainda não fez a tal ficha e me mandou pra sala logo? o que ela quer de mim? meu sangue? minha alma?)
- Precisa da carteirinha, certo?
- Preciso sim. Está aí? (não, está na toca do coelho branco... quer ir lá dar uma olhada?)
- Sim.
- Pode confirmar os dados?(se tem uma coisa irritante e que não é mérito só da moça simpática aí é o fato de TODOS os atendimentos médicos pedirem para confirmar dados. Não poderia ser depois, por telefone, na saída, sei lá, dá um jeito, mas não na hora em que você está prestes a ser atendido, né minha gente?)
- Sim.. sim... sim... sim... (até porque, seus dados não mudam do dia pra noite... ou seja, responder tudo sim outra vez. um saco)
- Agora, a senhora espera um minutinho que eu já vou chamar (meodeos! ela vai me fazer sentar de novo no sofá pra levantar no mesmo instante! louca! não caio mais nessa!)
- Tá (espera... espera... espera.. ai, droga, quero sentar... espera... senta e... TCHARAM!)
- Dona Maria Fernanda... (e ela ainda errou meu nome!!!!)

Bom, pelo menos, o resultado saiu hoje, sem ter que pegar fila nem sentar no sofá. E nome, claro, tá errado. Plano de saúde: um dia você vai ter um! Hunf.

4.11.2010

Alta costura

Vi ontem 9 (em português, acrescentou-se o complemento "A Salvação"). Pra quem chega na locadora e não conhece a história, compra como um filme de Tim Burton -- e lá estou eu falando nele de novo! É que estrategicamente colocado no topo da caixinha está o nome do diretor seguido de um tímido "apresenta".
Embora, pudesse ter sido dele tranquilamente. Dispõe de toda a estética obscura e dos personagens esquisitos intensamente fragmentados em seus próprios dramas (e corpos) que Burton gosta de usar.


Em quantas partes a sua alma poderia se dividir?



Em 9, inclusive, o diretor Shane Acker chegou bem perto do Estranho Mundo de Jack, abusando das linhas e agulhas para dar vida aos seres restantes da apocalíptica batalha final que destrói o mundo. Claro que há outras referências a grandes filmes de ficção, além de uma cena belíssima ao som da mais belíssima ainda Over The Rainbow. E um pouco de reflexão, porque não. Não há culpa em 9 ser um filme de Tim Burton sem o sê-lo realmente. Eu mesma, se resolvesse largar tudo e fazer filme (u-hum)... antes da minha família me internar, provavelmente beberia muito da fonte sado-humorista dos irmãos Cohen...

4.02.2010

Conto sem fada moderno

Há algum tempo, assisti com a Bárbara o precioso Edward Mãos de Tesoura. Partiu dela a vontade de ver - achou o dvd na minha prateleira e quis saber se poderia assistir àquele filme. Puxando pela memória, não me lembrei de nada que impedisse, então, lá fomos nós, bacias de pipocas no colo e aconchego do sofá por pouco mais de uma hora.

Normalmente, ele pergunta bastante durante os filmes. Palavras que não conhece, situações que não entende, falhas no roteiro (que às vezes só uma criança consegue perceber). Lembro que durante Edward ela pouco perguntou e pareceu ter entrado lá no tubo da tv, passeando entre as esculturas das árvores e dos cabelos tresloucados daquela cidade. Ela bem entendia o que acontecia naquele mundo mágico que não era de conto de fada.

No tragi-dramático-catastrófico fim - não haveria de ser diferente com Tim Burton - ela chorou. Primeiro, porque já estava com dó daquela pobre alegoria feminina de Geni, que só era boa enquanto servia cegamente ao seu vilarejo. O estopim pro choro sentido foi o momento em que todos se voltam contra Edward e ele fica encurralado e ferido no casarão. E assim, acuado e machucado, permanecerá pelo resto de sua vida.

Considero Tim Burton um grande diretor e sempre espero ansiosa por seus filmes. Porque eles podem ser qualquer coisa, menos óbvios. E no meio da obscuridade que é comum à sua obra, consegue-se fazer brotar frestas de sensibilidade com a mesma intensidade de um arroubo de paixão descontrolada.

Como disse, faz um tempo que vi o filme com a Bárbara. Mas, esse post não surgiu apenas porque lembrei ou porque Alice está chegando nos cinemas (aliás, nem estou aqui... estou lá na fila comprando ingresso, tá?). O motivo é um desenho que encontrei nas coisas delas, enquanto fazia aquele faxinão de feriadão. Com vocês, a obra de arte: "Eduard" "Mão" de Tesoura, por Bárbara.