2.25.2010

Sobre o gostar

Hoje Bárbara me perguntou se os Beatles eram velhinhos. Isso porque comentei sobre os Rolling Stones, que ainda estão na ativa e são uma das maiores bandas de rock firmes e fortes na labuta há tanto tempo (e ainda têm o Keith Richards!!!). Mas, voltando aos Beatles, expliquei que dois já tinham morrido, então, sobraram dois vivos e que, sim, eles já tinham alguma idade.
Daí, ela questionou sobre os que se foram dessa pra outra melhor -- ou não. Disse que Harrison ficou muito doente e morreu há não muito tempo. E que John tinha sido assassinado por um rapaz que se dizia muito fã do artista. Nesse momento, plantei a sementinha da confusão de sentimentos naquela pobre cabecinha.
O que ela não conseguia entender é como alguém que gostava, que era fã, poderia fazer algo tão ruim. Tentei explicar que, neste caso, o "gostar" passou dos limites, virando a única razão de viver do tal assassino -- inclusive quando ele se sentiu traído ao descobrir que (surprise!) os Beatles tinham um estilo de vida de altíssimo padrão, o que não condizia com a filosofia pregada pela banda. Há ainda a vertente que alega que Mark Chapmann tinha passado da idolotria e já acreditava ser o próprio Lennon, portanto, deveria exterminar seu "oponente".
E ficamos algum tempo nessa discussão sobre os limites do gostar, do curtir, do adorar, do querer... ela deu alguns exemplos engraçados (Mãe, eu adoro os Padrinhos Mágicos, mas, nem por isso, vou ficar o dia todo assistindo o desenho, né?). Mas, durante a conversa, senti algumas pulgas -- velhas -- pulando aqui bem atrás da orelha.
Não, não acho que ela tenha potencial para virar fã louca de ninguém. E muito menos chegar a dar tiros nessa pessoa. Toc-toc-toc. Mas, o que me fez a barriga gelar foi a ideia de que um dia ela possa sofrer, e ela deve sofrer, por um amor difícil. Ou por uma paixão ensandecida, que cega a visão e aguça a falta de juízo. Daquelas que te fazem acordar de madrugada no susto, pensando onde aquela pessoa pode estar e no que ela pode estar fazendo. Daquelas que te queiman as ventas só de ver uma sirigaita se aproximando do teu bem pra jogar um charme descarado. Daquelas que descompassam o coração quando chega perto de quem gosta. Daquelas que te fazem esquecer da sua vida, da sua origem, dos seus princípios e até do seu próprio nome... que te fazem olhar no espelho e não saber quem você é mais. A dor e a delícia de ser perdidamente louca por alguém. Sei como é. Acho que todo mundo sabe como é. E como isso pode machucar, daí sim, a ponto de se pensar em dar um tiro em alguém. (não, não pensei em dar tiro em ningúem... é só pra ilustrar, ok?)
Não queria que ela sofresse com isso, mas, quem sou eu para contrariar as leis do mundo cão dos relacionamentos e, muito menos, controlar os sentimentos que já estão ali, prontos pra saltarem a qualquer momento do peito?... Nobody. Então, só fiz repetir uma coisa que ouvi bastante, que é batido pra cacete, mas que é um recado que uma criança de 7 anos pode entender. "Filha, se um gostar, qualquer gostar, começar a te fazer mal, te trazer ruins, é porque já não é mais gostar."

2.23.2010

Pitadas de Vancouver

Gosto de acompanhar esportes, embora o faça com menos frequência do que há alguns anos. Quem incutiu a predileção na minha cabeça (e no coração, porque não?) foi o digníssimo senhor Antonio de Santi, pai e apoiador oficial em todas as horas em que esteve pisando esse chão.

Das recordações de infância, guardo nitidamente os domingos de jogo do Todo Poderoso Timão -- que ainda não tinha essa alcunha na época --, em que não podíamos respirar mais alto na sala pra não perder um lance, fosse na TV ou no radinho de pilha que ficava em cima da geladeira. Engraçado é ver meu irmão repetir o mesmo comportamento hoje, vinte anos depois. E ainda me ligar pra comentar resultado de jogo, mudança de técnico, novas contratações...

E eis que estou em férias e começo a acompanhar as tais Olimpíadas de Inverno. Quando a gente percebe que sabe o nome da jogadora canadense de curling feminino é porque o estágio de envolvimento afetivo já é irreversível. Mas, os esportes são bacanas, nórdicos e acima de tudo estilosos. De repente, lá estava eu quase duas horas e cacetada babando na patinação artística. E torcendo ainda, veja só.
Esse post é um apanhado rápido, despropositado e sem pretensões de crítica esportiva. Trata-se apenas de um registro breve de cositas que me chamaram a atenção nesse meio de monte de neve:

*** Juro que fiquei babando nesse uniforme do time da Rússia! É bonito, moderno, vermelho... uma coisa White Stripes Team, saca? Seria muito remota a chance de eu econtrar isso em algum outlet de uma loja esportiva um dia?



*** Quanto pesa um ouro olímpico para um atleta? Se a maior conquista esportiva dele for em Vancouver, vai pesar 576g. Isso no caso do ouro mesmo. As medalhas dessa Olímpiada de Inverno variam entre 500 e 576g e, até o momento, são as mais pesadas já produzidas para esse tipo de torneio.


*** Vale a pena ver de novo o sensacional Jamaica Abaixo de Zero. Aliás, os Jogos de Inverno do filme são no Canadá também. Gelada coincidência ou não, o filme está na lista de (poucas) comédias que me agradam.




*** O curling é um primo chique e de nariz arrebitado da bocha, né minha gente? A ideia central é a mesma, mas a elegantésima pedra de granito de 20kg tem que deslizar pelo gelo ao invés de ser feiosa e maciça (em ferro?) e ser arremessada pelo chão batido. Ah, tem as moças das vassouras também! Se elas fizerem uma faxina com o mesmo empenho, concentração e estresse com que gritam para a pedra chegar ao alvo, eu pago diária dobrada!



*** Pré-requisito do Figure Skating: bad, bad hair! E olha que, no começo, eu achava que era ter mullets... santa ingenuidade, Batman.













*** Pra finalizar, é com felicidade quase infantil que fico olhando praquele monte de neve branquinha, branquinha. Dá até pra imaginar os ossos tremendo dentro da carne, com frio de verdade, que faz a espinha curvar e a ponta do nariz queimar. Minha predileção pelo inverno ao verão vem de nascença, então, ao ver os jogos, prevalece a minha crença de que o frio ainda pode chegar. E não tem como não colocar um risinho no canto da boca e pensar "acho que Ele existe mesmo" quando se vê uma imagem dessas:



2.22.2010

Acuma?


Isso que dá querer colocar o focinho no mato que não conhece, já dizia minha doce mãe, que-deos-a-tenha. Pois lá estou eu no banho com a Bárbara e resolvo de inventar uma brincadeira besta divertida para esse momento molhado.
A ideia original era brincar de rimas. Até aí tudo bem. Ou melhor, tudo bem se a mãe psicótica não quisesse que a filha já fizesse estrofes de quatro versos e rimasse "céus azuis" com "tuiuius". Claro que deu tilte na pobre cabecinha confusa de 7 anos.

- Mãe, mas como é desse jeito que você tá falando?
- É que a palavra que rima tem que ficar no final da segunda frase, entende?
- Mas, eu tô colocando no final... 
- Então, mas a segunda frase deve ter mais ou menos o mesmo tamanho da primeira (nessa hora, eu mereceria que ela enfiasse o sabonete na minha boca)
- Hum...
- Ó, quer ver um versinho fácil, que dá pra você entender? (vai veno...)
- Fala...
- Meninha quando nasce/Se esparrama pelo chão...
(silêncio)
(gargalhada dela, claro)
- Hahahahaha! Não é a menina que nasce que esparrama, mãe... hahahahaha... imaginou, a coitadinha caindo no chão e se machucando toda?... hahahaha....
- Nhé... tá... quer brincar de quem termina o banho primeiro?

2.10.2010

Em todos esses anos...

... nessa indústria vital, é a primeira vez que vejo um tema tão surreal em banca de revistas!

 

Quem mais ficou com nojinho dessa jaqueta jeans levanta a mão...




 
 
 "Ô mãe, compra essa revista vai!"
 

2.08.2010

O preço de uma medalha

Recebi um email do amigo Gustavo com esse conteúdo. Trata-se de um vídeo/clipe do treinamento de ginastas chineses.
Mas, não são ginastas propriamente ditos. Não ainda. São crianças. Do tamanho da minha doce Bárbara ou até mais novas.
Acho que cada um convive com seus sonhos e objetivos, mas eu jamais (repito em caixa alta, JAMAIS!) submeteria conscientemente minha filha a algo que lhe trouxesse lágrimas de dor. A felicidade dela vale mais do que uma medalha olímpica. E quem me conhece sabe do meu fascínio por esportes e, em especial, o encantamento com a ginástica olímpica -- atual GRD. Nem isso me outorgaria agir como esses pais, que deliberadamente entregam seus filhos à exaustão física e emocional.


2.01.2010

A (micro)saga de um castelo de diamantes

Domingo, 31/1, 17h
- Mãe, aluga a Barbie Castelo de Diamantes...
- Mas, você já não viu esse filme com a amiguinha umas 12 vezes semana passada, Bárbara? (estou sendo bondosa, acho que foram umas 25... pelo menos, viu Star Wars também e desintoxicou um pouco)
- Ah, mãe, só mais uma vez, quero ver com você. Por favor, vai, aluga, só mais uma vez, eu prometo, pega lá, vamos na locadora, pega pra mim, quero ver junto, por favor, blá, blé, bli, bló, blu...
- Aiii! Tá bom, mas espera o jogo terminar que a gente vai. (se essa chuva que tá pensando em cair não alagar tudo, claro)

Domingo, 31/1, 21h
- Mãe, vamos ver o filme juntas?
- Vamos sim, mas só amanhã. Agora ficou tarde e a aula começa amanhã... já pra cama, mocinha.
- Mas...
- Nem mais nem menos. Amanhã, quando chegar da escola, nós vemos, ok?
- Hunf... (seguido do olhar de ódio mortal que poderia me partir ao meio em dois segundos)

Segunda, 1/2, 8h
- Mãe, vamos ver o filme hoje à noite, né?
- Vamos, sim, Bibi... já tínhamos combinado (tenho outra escolha? não, neam)
- Ah, você vai ver as músicas, aquelas que eu estou cantando sempre, que legal! (pulando freneticamente no banco traseiro do uno)
- Puxa, vai ser ótimo (sarcasmo super on)

Segunda, 1/2, 18h30
- Ê, chegamos, vamos ver o filme.. agora?
- Peraí, que vou tirar as coisas da mochila. E temos que comer alguma coisa, né?
- Ah, faz pipoca... adoro ver esse filme comendo pipoca. (tchau, dieta! segunda que vem a gente se vê!)
- Ok, pipoca saindo... (tão reconfortante descobrir que a de microondas acabou bem nessa hora... nada como um milho reserva pra salvar a nação)

Segunda, 1/2, 18h32
-Manhêêê... a pipoca não tá pronta ainda?
- Flor de maracujá, estou estourando na panela, ok? Já, já sai (caso eu não me queime e você precisa chamar o Samu)

Segunda, 1/2, 19h15
- Bárbara, se elas estão com fome, porque não colhem fruta no bosque? (tá rolando uma vibe lesbian barbie ou estou vendo muita notícia do big brother?)
- Mãe, esse bosque não tem fruta...
- Ué, então porque não vai caçar bicho no mato?
- Mãe!!! Elas são damas, não tá vendo? (primeiro olhar verdadeiro de reprovação)
- Oras, damas, mas com fome... se tá com fome, não fica reclamando, vai caçar!
- Mãe, ela é a Barbie, não pode caçar!!!! (segundo olhar verdadeiro de reprovação)

(engoli a gargalhada e prossegui na minha tentativa de choque de realidade na donzela loirinha)

- E agora elas estão cantando???
- Estão, mãe... (o tédio está dando lugar à irritação, eu percebo!)
- Ao invés de ir caçar, porque tá com fome, elas vão cantar??? Essas meninas acham que vai cair comida do céu, é? Se eu estou com fome, não saio por aí cantando e...
- MÃE! Não quer ir lá ver o jornal?...
- Nhé...

Se for pra cantar, que pelo menos seja algo que preste. Aprovo o modelo rehab!