10.16.2012

1 mês

Ele só queria jogar bola. Ele tinha o sorriso mais conquistador do mundo. Ele passava trotes como ninguém. Ele era o tio preferido de todas as sobrinhas. Ele vivia de gel no cabelo. Ele tinha aquela vaidade, como dizia, boleira. Ele pegava geral. Ele dormia quando viajava de carro comigo. Ele amava a filha mais que tudo na vida. Ele fazia amizade com qualquer pessoa. Ele torcia pro Timão. Ele nunca se metia na briga das irmãs. Ele aprendeu a tocar cavaquinho sem ninguém ensinar. Ele gostava de Adoniram. Ele nunca falava mal de pessoa alguma. Ele mandava mensagem todo dia pra desejar algo de bom. Ele me ajudava a pintar o apartamento. Ele adorava chocolate. Ele tinha o coração mais bondoso que já conheci.  Ele me chamava de Fer... eu o chamava de Du.



Ele era o melhor irmão do mundo e como tal deve estar em algum lugar dizendo pra gente não se preocupar, que tudo vai ficar bem... 

10.12.2012

When I was a child...


Sentava na carteira da frente na escola.
Roubava espiga de milho na plantação.
Queria ganhar um Gênius.
Tinha medo do louquinho da cidade.
Mudava todo ano de casa.
Chorava escondido pra ninguém ver.
Nunca apanhava.
Adorava passear com meu pai.
Ganhei uma sandália de saltinho que não queria tirar do pé de jeito nenhum.
Raspava o fundo da panela de polenta.
Pedia pra minha mãe fazer panqueca todo dia.
Adorava estudar.
Viajava de trem de São Paulo até Dois Córregos.
Tive um balanço na árvore.
Odiava meu nariz.
Adorava meu cabelo.
Caí de bicicleta e me ralei inteira.
Datilografava os orçamentos pro meu pai em duas vias de igual teor.
Gostava de dar susto na minha irmã.
Era especialista em jogar queimada.
Era especialista em me queimar (de verdade).
Fui feliz.

Não sou mais criança faz bom tempo, é sabido de todos. Hoje em dia, sou uma profissional dedicada, adoro pamonha, gosto de dar jogos para minha filha, não tenho medo dos loucos (e sim dos sãos), moro há mais de 10 anos na mesma cidade, guardo meu choro para o que é de merecimento, nunca bati na Bárbara, acho que viajar é a melhor diversão que pode existir, sou louca-descontrolada por sapatos, nunca mais comi uma polenta que fosse igual à da minha mãe, só posso com panqueca de frango, luto para encontrar aquele tempinho para ler, vou para Dois Córregos e fico olhando o que mudou e o que não mudou na cidade, vou a uma praça com balanço na árvore perto de casa, aprendi a aceitar meu nariz e mudar meu cabelo sempre que der vontade, parei de andar de bicicleta (treco perigoso!), digito rapidinho graças ao curso de datilografia, parei de assustar minha irmã para fazer piadas com ela, pratico exercício regularmente e não me queimo mais. Sou feliz.



Ah, e tenho um telefone preto e rosinha também ;)


10.02.2012

...





Quando se perde algo muito importante na vida, reza a sabedoria popular, é que se aprende a dar valor ao que se tinha.

Mas, quando se perde alguém que tinha tanta vida pra viver, tanto amor pra amar, tanta risada pra gargalhar, tanta lágrima pra rolar, tantos horizontes ainda por olhar... a última coisa em que é possível pensar é que exista sabedoria no universo que explique isso.

É neste momento que você percebe que certas coisas que saíram em algum momento da sua vida e às quais  se deveria dar o tal valor depois - namorado, emprego, carteira com dinheiro, dente do juízo - não são perdas, não. Porque perder, pra valer, dói muito mais. 

Hoje, um amigo me perguntou (com alguma constatação) perto do final do dia: você está melhor, não? Balancei a cabeça na afirmativa, engoli um começo de choro e respondi (com alguma resignação): tenho que estar.

Há três exatas semanas, sem nenhum aviso prévio, sem nenhuma cerimônia, sem nenhuma anunciação, uma parte boa da minha vida foi embora. Para nunca mais voltar. Não por minha vontade, não por vontade de ninguém. Alguma vontade invisível aos nossos olhos, arredia à nossa voz, determinada a cumprir sua missão e encerrar uma história que só tinha vinte e cinco anos.

E quando uma parte boa sua se vai, não há descrição física de dor que possa chegar perto do que sua alma sente. Falta força na voz pra lamentar durante a eternidade de saudade que já se sabe que virá.  Sequer há palavra escrita que dê conta de acalmar o emaranhado de pensamentos turvos que dominam sua cabeça. Em algum momento, as lágrimas se cansam e param de cair. Porque nem elas aguentam mais tanta tristeza.

Depois de vinte e um dias, estar bem é uma necessidade básica. Única alternativa ao precipício tentador da melancolia. Rota desenhada para fugir dos questionamentos que, sabemos, nunca terão resposta. Pra deixar de pensar em cada minuto do dia nesse buraco negro, vazio, imenso, oco, sem som nem luz que é sua ausência...


Quero agradecer a todos que estiveram perto da nossa família, em pessoa ou pensamento. Obrigada por cada abraço, mentalização, mensagem, telefonema, intenção, missa, oração... Desejo, do fundo de um coração ainda angustiado, que tudo isso se transforme num grande caminho de luz para meu irmão.



 Du, esse amor aqui de dentro não acaba não, esteja você onde estiver meu mano...